Filosofia

A minha Natureza, a minha essência

Desde jovem gosto de agradar aos outros: é quase um passatempo. Procuro constantemente pensar no que poderia fazer para que todos sejam felizes. De manhã, por exemplo, ao levantar-me, antes de mais procuro saber como está o ânimo dos meus. Se houver um sequer que se mostre indisposto, já não me sinto bem. Este particular, é exatamente o contrário do que ocorre por aí.

Em geral, as pessoas preocupam-se mas é em saber se o cabeça de família acordou bem ou mal humorado. Todavia, comigo acontece o oposto. O que me custa é ser obrigado a escutar insultos, gritos irados, queixas ou lamúrias. Custa-me imenso também estar a ouvir uma mesma coisa repetida e insistentemente. Inclino-me pelo que é pacífico e aprazível. Desagradando-me o apego – eis a minha essência.


O resultado do que discorri aqui é um dos fatores determinantes da minha felicidade razão pela qual sempre afirmo que, se não fizermos o outro feliz, não poderemos ser felizes.”

(30 de Janeiro de 1950)

Esforçar-se passo a passo rumo à perfeição

“Julgo eu que o nosso objetivo último é formar homens perfeitos. Logicamente, não há como esperar a perfeição neste mundo, mas nada impede a busca do aprimoramento que nos aproxima dela, passo a passo.

Requer-se um quotidiano de esforço para nos acercarmos, passo a passo, do ser humano perfeito ou da perfeição de carácter, noutras palavras. Por ser humano perfeito entendemos aquele cuja ossatura é a Verdade e a carne é o dia-a-dia. É o homem que, abrigando no íntimo um espírito firme que não se rende nem ao mal nem às seduções, sejam quais forem, é dono de uma grandeza de alma na medida do céu e do oceano. Nas suas palavras e atos – convenientes com o momento, lugar e posição – rege-se pela flexibilidade. Procede de maneira extraordinariamente versátil, a nada se apegando. Tem as regras em apreço, odiando a indolência. A todos ama e, no trato com o semelhante, é ameno como um dia de Primavera ou Outono. Sem pender para extremos, faz por ser simpático. Gentileza e humildade são princípios pelos quais e conduz. Ele deseja a felicidade alheia e segue sempre em frente trazendo consigo a fé de esgotar os recursos possíveis e deixar o resultado a cargo da Providência.

Muito embora não se possa esperar a perfeição na totalidade, o esforço para acercar passo a passo deste ideal é o ato mais nobre e sublime da criatura humana. Alguém assim é um ser verdadeiramente feliz, que sente a razão de viver. A comunidade de pessoas como estas será nem mais nem menos que o Paraíso Terreno.”

 (30 de Maio de 1949)

O segredo da felicidade


Quando se toca num assunto como o segredo da felicidade, parece que iremos tratar de alguma magia especial, quando na realidade não é nada disso. Trata-se duma coisa extremamente óbvia.

Ao observar o mundo à nossa volta, quantos indivíduos verdadeiramente felizes vamos encontrar? Talvez nenhum. Isso mostra como a sociedade está cheia de sofrimento. (…)

No entanto, basta-nos a nós ser felizes enquanto vivos. Portanto, é preciso encontrar a causa da felicidade e pô-la em prática. O meio? Como digo desde sempre, consiste em fazer o outro feliz.

Para simplificar: que se pratiquem boas ações na medida do possível. Procure sempre fazer o bem, em todos os momentos. Dê alegria ao outro. (…)

Imaginemos como será a nação e a sociedade na hipótese de todos, em uníssono, praticarmos o bem.”

 (1 de Outubro de 1949)

Pessoa simpática

“Simpatia - não existirá, porventura, palavra que soe tão agradavelmente quanto esta. Aliás, se meditarmos bem, simpatia é, para além do que se imagina, algo de suma importância para estarmos bem no mundo.

Vamos imaginar alguém que, ao manter contacto com uma pessoa simpática, também se tornasse simpático. Ocorrendo, assim, uma expansão em cadeia, veríamos o surgimento de uma sociedade aprazível. Mas não bastam as aparências: é preciso que a sinceridade aflore do fundo da alma. Resumindo, na base está o amor ao próximo.

A propósito, escreverei um pouco sobre mim. Desde jovem – modéstia à parte – aonde quer que vá, raramente sou malquisto ou me guardam rancor. Na maior parte das vezes, simpatizam-se comigo. Meditando sobre isso, encontrei o seguinte motivo. Deixo sempre os meus interesses e satisfação em segundo plano, tendo exclusivamente em atenção o que satisfaz e alegra o meu semelhante. Reparem que não faço por questões morais ou religiosas em particular. Trata-se dalgo espontâneo: se calhar é o meu carácter. Por outras palavras, é como um passatempo. Dessa maneira, dizem-me com frequência que lucro com o meu feitio. De facto, é verdade.”

(21 de Abril de 1954)

O Verdadeiro forte

“Atualmente, mal abrimos a boca, lamentamos os males que grassam pelo mundo pois, de facto, os maus são muitos e estão em todo lugar. Sempre fui vítima da sua maldade, permitindo-me afirmar que a minha vida pregressa é uma história de luta contra elas.

Ao dissecar a psicologia do homem perverso, concluímos que a sua ação nunca é inconsciente. Ele sabe o que faz. Excetuando-se aqueles grandes facínoras que se distinguem por uma hediondez sem igual, a maior parte dos maus, cientes do seu erro, envereda-se pelas sendas da iniquidade por casa da cupidez do dinheiro, álcool, mulheres, etc., sendo ideia aceite entre eles que, uma vez na trilha do mal, dificilmente dela poderão escapar.

Se alguém, ciente do erro, não consegue sofrear-se, é porque lhe falta a força suficiente, ou seja, a verdadeira coragem. Isto é o que de mais nobre um homem pode possuir. Afirmo sempre que a criatura humana se transforma num ser divino graças à evolução. Assim, o dono dum sentimento que nunca se deixa derrotar pelo mal, controlando-se de imediato ao tomar consciência dele, este, sim, adquiriu a natureza divina genuína. Esta é que á a verdadeira força.

Daí, creio que poderão entender o significado da minha frase:Fraco, teu nome é homem perverso!”


(29 de Outubro de 1949)


Ego e apego

Na observação da personalidade humana, constatamos que toda a gente apresenta no carácter dois traços que são como que irmãos: o ego e o apego. Descobrimos também que a causa das questões complicadas custarem a se deslindar está quase sempre na interferência desse par de fatores. (…) Para além disso, uma reflexão sobre o próprio passado revelará a qualquer um que, por causa do ego já fez sofrer tanto a outrem como a si próprio, e deu azo a disputas. (..)

Eu, tão logo dei conta disto, empenhei-me em eliminar o quanto pude o egocentrismo. Assim, em primeiro lugar, os meus sofrimentos diminuíram, e tudo passou a bem resultar. Com efeito, é bastante profundo o aforismo que aconselha: não sofra pelo que ainda não veio nem pelo que já passou.”


(5 de Setembro de 1948)

Amabilidade e refinamento

“Uma observação do homem contemporâneo mostra-nos que a amabilidade e o refinamento são as suas maiores lacunas. Há medidas de avaliação da evolução espiritual, do nível atingido no polimento de corpo e alma. Não se trata de nada complicado. Poderemos considerar que estamos polidos se, antes de tudo, tivermos criado aversão em entrar em disputa com o outro, se a amabilidade brita do íntimo e o refinamento transparece em nós – são tais sentimentos e postura. É neles que vamos encontrar o valor por excelência da evolução espiritual.


(25 de Setembro de 1950)

Não julgar

“É tendência do ser humano prender-se aos seus próprios pontos de vista… Trata-se de uma tendência altamente perigosa, porque sustenta inflexivelmente a sua própria opinião, considerando-a verdadeira, julga o próximo baseando-se nela… O homem não deve emitir opinião sobre o próximo, pois não tem capacidade para julgar o bem ou o mal, a sinceridade ou a falsidade. Isso compete a Deus.
Quem se arroga o poder de julgamento está infringindo os direitos divinos, porque é apenas um ser humano. É excesso de presunção, é atitude altamente condenável.(…)

 Portanto, todos devem procurar seguir esta norma: ‘Não julgue o próximo; julgue-se constantemente a si próprio’.”


(21 de Maio de 1952)

Gratidão

“É a mais pura verdade que a gratidão gera a gratidão e o descontentamento atrai o descontentamento. O motivo é o seguinte. Um coração grato comunica-se com o Bem, mas um sentimento descontente liga-se ao mal. Consoante tal princípio, é facto que se torna naturalmente feliz quem vive sempre a agradecer, ao passo que acaba no infortúnio o que constantemente traz nos lábios descontentamento, insatisfação ou queixas.

As Escrituras da Ômoto dizem: ‘Se te alegras, as alegrias vêm ter contigo.’
Com efeito, tem-se aqui uma regra de ouro.